Criada por Patrick Hasburgh e pelo prolífico Stephen J. Cannell, responsável entre outras séries como Arquivo Confidencial, Baretta e Esquadrão Classe A, Anjos da Lei fez parte do pacote de estreia do canal Fox em 1987, juntamente com Um Amor de Família e o programa que seria o berço dos Simpsons, o The Tracey Ullman Show. A inspiração veio de um programa real da polícia de Los Angeles que desde o final dos anos 50 usava policiais jovens infiltrados em colégios e faculdades e que já havia rendido um sucesso, a revolucionária Mod Squad, criada por um dos policiais que havia trabalhado no programa, Bud Ruskins.
Assim como sua inspiração,o seriado mostrava o trabalho de uma equipe de policiais capazes de infiltrar-se em escolas e outros ambientes frequentados por adolescentes. O objetivo da Fox era atrair o público jovem e o elenco multiétnico foi escolhido a dedo para executar essa tarefa. Para interpretar Tom Hanson, o policial despachado para a equipe após problemas disciplinares em seu posto anterior foi escolhido Johnny Depp. Para Doug Penhall, o policial que já fazia parte do time, foi escalado Peter DeLuise.
Com apenas um trabalho como atriz antes de ser escalada para o projeto, Holly Robinsoninterpretava Judith Hoffs, além de cantar a música tema na abertura da série. Para completar o grupo e apelar aos filhos e netos de imigrantes, o vietnamita Dustin Nguyen era Harry Truman Ioki. Na primeira temporada, os policiais foram comandados pelo Capitão Richard Jenko, interpretado por Frederic Forrest, substituído a partir do segundo ano por Steven William como o capitão Adam Fuller.
As investigações do grupo tratavam de tráfico de drogas, maus tratos, crimes de ódio, prostituição, sempre envolvendo jovens. O formato incluía ainda uma cena final de utilidade pública aconselhando o público a buscar ajuda caso enfrentasse problemas e informando números de telefones de grupos de apoio para os mais diversos casos.
Aos 23 anos, Depp era um roqueiro desempregado que havia abandonado a escola antes de terminar o ensino médio. Mas seu currículo como ator, que incluía participações em produções como A Hora do Pesadelo (1984) e Dama de Ouro (1985) havia começado a mudar em 1986. Em fevereiro, ele fez parte do elenco que se embrenhou na selva das Filipinas para as difíceis filmagens de Platoon, de Oliver Stone. Mas foi Anjos da Lei, que começou a ser filmada em Vancouver em novembro daquele ano, que o colocou no mapa. Não tanto por tratar de temas como AIDS, racismo e suicídio, mas principalmente por seu rostinho bonito que o transformou no novo proprietário das paredes dos quartos adolescentes em todo o mundo.
O novo status do ator agradou a Fox, que viu a série fazer história na guerra da audiência como a primeira série do canal a vencer um programa da ABC, CBS e NBC com um honroso terceiro lugar em agosto de 1987, mas Depp não pensava assim. Sua primeira reação ao roteiro de Anjos da Leihavia sido recusar a série, que acabou contratando Jeff Yagher para o papel de Tom Hanson. Três semanas após o início das filmagens, Yagher estava fora do elenco e Depp foi novamente chamado, leu o roteiro e ganhou o papel, mas apostou que o programa teria apenas uma temporada. Seria um trabalho com alguma visibilidade e o ajudaria a obter o próximo papel para algo sério como Platoon ou voltar para a música.
Ao contrário disso, o ator passou a fazer parte de um projeto de longa duração que elogiava por tratar de temas importantes para os jovens, mas ao mesmo tempo criticava em seus episódios mais vazios, que se acumularam com a saída de Patrick Hasburgh.
Dos episódios com os quais não concordava, Johnny Depp se recusava a participar, devolvendo o pagamento de 45 mil dólares por episódio e chegando a dizer que colocar policiais nas escolas era injusto e aproximava-se do fascismo. Na terceira temporada, essa atitude abriu caminho para a contratação de Richard Grieco para interpretar o policial Dennis Booker, que ganhou cenas originalmente escritas para Tom Hanson e sua própria série em 1989, mas o derivado durou apenas um ano e ficou claro que Anjos da Lei dependia de Depp. O ator não via mais nada de interessante no seriado, passando a fazer de tudo para ser dispensado do contrato que o prendia por mais dois anos. Ajudou o fato da audiência ter caído e dos atores não serem mais capazes de interpretar adolescentes.
Anjos da Lei teve ainda mais uma temporada, já sem Nguyen e Depp, que consistentemente passou a escolher projetos o mais distantes possível da imagem de ídolo adolescente, começando com Cry-Baby e seguindo para Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood e sua festejada parceira com Tim Burton. Holly Robinson, agora Robinson Peete, seguiu atuando, assim como Nguyen, agora dedicado ao cinema vietnamita, enquanto DeLuise passou para a direção.
Como toda série de décadas passadas, em Anjos da Lei é possível encontrar nomes famosos de hoje em papeis secundários ou pontas. Brad Pitt e Depp contracenam em um episódio, dois rostos bonitos que foram em busca de papéis em que sua aparência fosse ignorada, mesmo tendo sido ela um grande impulso em suas carreiras. Jada Pinkett Smith, Josh Brolin, Christina Applegate, Peter Berg e Jason Priestley também estão ali ainda em busca de uma chance, ao lado de vários que nunca chegaram a ser conhecidos.
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